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Ex-diretora nacional do Paradesporto aborda desenvolvimento e metodologia pioneira

Por time | 20 Outubro 2022 | 1 Min de Leitura
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O paradesporto é instrumento para transformação de vidas. Foi assim com a Isabela, Fernanda e outros paratletas da Associação de Paradesporto de Blumenau (APESBLU), que alçaram voos ainda maiores no cenário nacional.

Por falar nisso, o Brasil está entre as dez potências paralímpicas do mundo. Não é à toa, graças a investimentos, legislação e projetos como o da APESBLU, fundado pela educadora física Giselle Chirolli.

É com quem conversamos para o conteúdo de hoje. Em entrevista, Giselle contou sobre os avanços e desafios para o desenvolvimento do paradesporto no cenário nacional e como o programa idealizado por ela tornou-se referência no país.

Confira a seguir!


FOTO: arquivo Facebook.

Sobre a entrevistada

Giselle Chirolli é ex-diretora da Secretaria Nacional do Paradesporto do Ministério da Cidadania e fundadora da Associação de Paradesporto de Blumenau, onde idealizou o programa da área no município.

Ela é graduada em Educação Física, atua no segmento de inclusão social há 20 anos e atualmente ocupa uma cadeira da Câmara de Vereadores de Blumenau.

Na trajetória, teve oportunidade de organizar diversos eventos junto ao Comitê Paralímpico Brasileiro e Associação de Desporto para Deficientes, além de participar como voluntária das Paralimpíadas Rio 2016.

Abaixo, leia a entrevista completa:

Placarsoft: você possui graduação em Educação Física e atua na área de inclusão social. De onde surgiu a paixão por esse campo?

Giselle Chirolli: eu fui atleta de alto rendimento de tênis de mesa desde os 11 anos de idade, quando eu entrei na faculdade de Educação Física aos 17 anos, em Blumenau, não queria atuar no segmento do paradesporto. Na época, era pouco difundido ainda, mas eu tenho um irmão com deficiência intelectual leve e passei por muito preconceito desde a minha infância. Ele é mais velho e foi um dos primeiros a tentar a inclusão da pessoa com deficiência no ensino regular e isso tudo para mim foi muito desgastante.

Mas a minha história começa a mudar quando fui para Florianópolis com 19 anos ser técnica de alto rendimento, foi onde tive meu primeiro paratleta. Comecei a rodar o Brasil com a equipe olímpica e foi aí que eu conheci o que era garantido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): toda criança tem direito ao acesso ao esporte no contraturno. Na prática, notei que isso não funcionava em nenhum lugar do país, isso há 20 anos.

Ativou então a paixão pela política pública no meu coração e senti que era isso que ia fazer na minha vida: a maior política pública desse Brasil. Comecei a escrever essa metodologia diferenciada em Florianópolis e implantei em duas escolas com surf adaptado.

Em 2011, voltei para Blumenau. Lá, comecei como voluntária no tênis de mesa para cadeirantes e comecei meu projeto. Precisei bater em várias portas, fiquei oito meses e consegui apoio de três empresas e academias que abriram espaço. No final do mesmo ano, a fundação me contratou já com 17 alunos e foram contratados professores.

P: na sua trajetória, você foi diretora do paradesporto no governo federal e idealizadora do programa Paradesporto Blumenau. Como é desempenhado o trabalho à frente dessas instituições de nível nacional e municipal?

GC: dentro da metodologia que eu idealizei, a coluna vertebral sempre foi a política pública, uma responsabilidade do governo e por isso eu queria o apoio das Secretarias de Educação e Esportes. Afinal, as crianças são a base disso e elas estão na escola, desde a Educação Infantil.

É claro que a prefeitura nunca fica a cargo de tudo e também não dá conta. Por isso, no meu processo de escrita em 2010, descrevi a atuação conjunto de três setores. A APESBLU para captar recursos da iniciativa privada para atuar junto do órgão público. Em Blumenau, isso deu super certo e tornou-se referência no país, fomos a primeira diretoria de paradesporto criada dentro de uma Secretaria Municipal de Educação.

Portanto, a associação funciona desde 2012 com voluntários, conta com cerca de 150 parceiros que já vieram e vêm para auxiliar nas despesas de viagem, uniformes e equipamentos, enquanto a Prefeitura de Blumenau arca com os custos da sede, equipe de professores, vans e capacitação.

Trabalhamos juntos, esse é o maior diferencial.

P: em Blumenau, você também fundou a Associação de Paradesporto de Blumenau que hoje conta com cerca de 500 alunos paratletas. Que ações a entidade desenvolve?

GC: os alunos que se inscrevem no paradesporto são automaticamente beneficiários da associação. A APESBLU tem papel fundamental na captação de recursos e união da sociedade civil organizada para auxiliar de forma efetiva a política pública do programa de paradesporto. Contamos com o apoio de empresários, voluntários, pais, paratletas e outros.

Vale ressaltar também que um dos nossos objetivos sempre foi ter uma lei. Esse desejo foi concretizado em 2016, através do decreto nº 10.919/2016 assinado pelo então prefeito Napoleão Bernardes, que regulamentou o programa de paradesporto escolar da Rede Municipal de Ensino de Blumenau.

Pra jogo: o paradesporto no cenário nacional

P: dessa forma, o esporte contribui em diversos aspectos na sociedade. Como especialista, quais avanços você vê no cenário do paradesporto nos últimos anos?

GC: há anos, eu debati com o atual presidente do Comitê Paralímpico Internacional, Andrew Parsons, quando ele era presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro que o país tinha que ter uma política pública para desenvolvimento e fomento do paradesporto. Ele sempre me respondia que essa era uma responsabilidade do governo federal, até que em 2020 criou-se a Secretaria Nacional do Paradesporto, vinculada ao Ministério da Cidadania.

Tive o prazer de ser diretora do órgão ainda novo e participar da construção das primeiras diretrizes de forma metodológica e políticas públicas: Semear + Paradesporto, Avança Paradesporto e TEAtivo.

Vejo que o direito ao acesso de oportunidades está sendo mais garantido e incluindo muito mais as pessoas com deficiência.

O paradesporto é capaz de transformar o atleta, a família e o mundo depois que ele passar a defender uma bandeira. A sociedade os enxerga como campeões e, com certeza, o trabalho dessas instituições impacta a mudança.

P: você acha que a tecnologia contribui para isso? De que forma?

GC: sem dúvidas na gestão, desempenho do paratleta e autonomia dele. A tecnologia é importante para avançar nas próteses, implementos e traz soluções para a gestão do paradesporto, novos métodos podem ser criados.

P: por outro lado, o que ainda falta para o paradesporto progredir mais?

GC: acho que o que ainda falta é uma política pública estadual, além da nacional. Estamos caminhando para isso, mas ainda há falhas e falta de diretrizes que obriguem a execução. Somos uma das dez potências mundiais do paradesporto, mas 76% dos municípios brasileiros ainda não têm ações voltadas ao segmento.

Estaríamos ainda mais na frente se os gestores entendessem a importância da mudança e investimento, junto de associações e outros projetos.

P: deixe um conselho para quem deseja dar o pontapé em iniciativas voltadas à área de inclusão social no esporte.

GC: para o pontapé, o principal é buscar o governo municipal e mostrar as evidências com cases de sucesso, como em Blumenau. Aqui, por exemplo, ajudamos seis cidades e conversei com gestores. Essa é dica: unir pessoas com deficiência, famílias e reunir setores para, de fato, garantir o direito de acesso.

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